A AEAPE já não existe!

A AEAPE estava sediada no Hospital Júlio de Matos, em Lisboa, Portugal, Europa.
Esta associação foi dissolvida em Outubro de 2010 após decisão em Assembleia Geral.

Todos os serviços estão encerrados desde então.

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quarta-feira, 8 de abril de 2009

Eu também me empenho na recuperação da minha saúde mental

A possibilidade de recuperar a saúde e de diminuir o impacto da doença depende de vários factores. Os conselhos que aqui divulgamos destinam-se a ti, pessoa que sofre de esquizofrenia, e são uma ajuda para a superação e controle da doença. São baseados nos “dez mandamentos” da Fundação Holandesa para os Doentes com Esquizofrenia. Os conselhos terão naturalmente de ser adaptados ao dia a dia de cada pessoa.

O princípio fundamental é o seguinte: mesmo que a doença persista, mesmo que alguns sintomas perdurem, há que normalizar a vida, assumir as tarefas possíveis, fazer progressos e lutar contra a doença. O tratamento psiquiátrico e as medidas de apoio (psicológicas e de reabilitação) serão eficazes na medida do interesse com que as cumprires e partilhares como pessoa activa e empenhada na vida.

1º - Permanecerás fiel ao teu tratamento. Se achares que a medicação não te está a ajudar ou se sentires efeitos não desejáveis comunica ao médico, ao enfermeiro ou outro técnico, mas não alteres o tratamento por tua iniciativa.

2º - Terás o cuidado de conservar um ritmo de sono e vigília correcto, com as horas de sono necessárias. O excesso de horas de sono é naturalmente algo que também será de evitar.

3º - Evitarás o stress. Dado que há que ter em conta a tua fragilidade e menor resistência psicológica.

4º - O teu quotidiano deve ser como o das outras pessoas. É importante para a saúde manter rotinas normais, de higiene, alimentação (com horas certas), actividade em casa e no exterior. É péssimo ficar a preguiçar, sem fazer o que está ao alcance, evitando sobrecarregar os próximos. Mesmo as pequenas tarefas do dia a dia são importantes para a satisfação com a vida, a saúde e a autonomia.

5º - Evitarás as drogas. Mesmo as chamadas drogas “leves” são nocivas. Por exemplo, o haxixe pode ser muito prejudicial. O tabaco, se tiveres o hábito e não sofreres de uma doença respiratória não é prejudicial à saúde mental, mas deve ser controlado, sem excessos que custam caro e envolvem riscos para a saúde física. As bebidas alcoólicas são de evitar, por todas as razões mais o facto de interagirem com os medicamentos.

6º- Levarás uma vida organizada. Prcurarás ter horas para dormir, comer, trabalhar, pouco que seja.

7º- Fixarás um programa de actividades para cada dia. Em cada dia é importante fazer coisas úteis, mesmo que pequenas. O pior é ficar na cama o dia inteiro.

8º- Permanecerás em contacto com outras pessoas. Com a família, com amigos, com outros doentes. O isolamento pode ser prejudicial.

9º - Manterás o contacto com o psiquiatra / a equipe de saúde mental. A regularidade das consultas e da medicação é essencial.

10º- Praticarás desporto pelo menos uma vez por semana. A prática do exercício físico também é útil para a saúde mental.

Tabagismo e Risco de Doenças Físicas na Esquizofrenia

As pessoas com Esquizofrenia têm, em geral, uma menor esperança média de vida do que a restante população. Estima-se que as pessoas com esta doença vivam em média menos 10 anos do que a população geral. Este facto deve-se a observar-se nestes doentes uma prevalência mais elevada de: Doenças Cardio-Vasculares, Diabetes, Obesidade, Pneumonia, Traumatismos, Neoplasia, Hipertensão Arterial ou Doenças Infecciosas. Por outro lado os doentes com Esquizofrenia com frequência têm hábitos de vida pouco saudáveis como: Tabagismo, Sedentarismo, erros alimentares e por vezes o consumo de Álcool e drogas ilícitas.

Doenças Médicas e sua prevalência na Esquizofrenia:


O estilo de vida sedentário de muitos destes doentes está associado à Obesidade, assim como a utilização de alguns medicamentos Antipsicóticos. A Obesidade é mais frequente nas mulheres. O exercício físico é essencial e muitos doentes que o praticam referem sentir.se mais calmos, menos deprimidos e com níveis mais altos de energia.

A Obesidade, o Tabagismo, os Antipsicóticos Atípicos e os erros alimentares podem contribuir para o desenvolvimento de Diabetes. A Diabetes está associada a Doenças Cardio-vasculares e Hipertensão Arterial.

O Tabagismo é muito frequente nos doentes com Esquizofrenia e é responsável por múltiplas doenças do organismo. Sabe-se que nestes doentes o consumo de Tabaco é duas vezes superior ao da população geral. O consumo de Tabaco nesta patologia situa-se entre 58 e 88 %. Cerca de 93 % dos doentes com Esquizofrenia fumaram em algum período da sua vida. As consequências do consumo de Tabaco também são maiores nesta doença pois os doentes tendem a fumar cigarros mais fortes (mais alcatrão e nicotina), inalar o fumo mais profundamente e fumam em maior quantidade e por um peiodo de tempo mais prolongado. As principais consequências do tabagismo crónico são as doenças respiratórias – Cancro do Pulmão, Enfisema Pulmonar e Bronquíte Cronica; e as doenças Cardio-Vasculares – Enfarte do Miocárdio, Doença Coronária, Hipertensão Arterial. Estas doenças contribuem significativamente para encurtar a esperança média de vida dos doentes com Esquizofrenia. Existem algumas razões para estes doentes fumarem tanto. A desocupação e aborrecimento, os efeitos secundários dos medicamentos e o efeito calmante da Nicotina. Sabe-se ainda que os doentes a fazer Antipsicóticos e que fumam, necessitam geralmente de doses mais altas de medicação do que os doentes que não fumam. Muitas vezes ocorre um ciclo vicioso em que quanto mais o doente fuma, mais agrava a sua Esquizofrenia e maior dose de medicação será administrada. Com uma dose mais alta de medicamentos, alguns doentes fumam mais e ficam pior o que leva a um novo aumento da medicação.

Outro facto que tem vindo a ser reconhecido é o do Síndroma Metabólica dos Antipsicóticos Atípicos. Este Síndroma consiste no aparecimento de doenças como a Diabetes, a Hipertensão Arterial e aumento do Colesterol. Contudo, o estilo de vida dos doentes com Esquizofrenia também causa todas estas doenças, como já vimos, pelo que se pensa que estes medicamentos sejam mais um factor na sua origem.

Estes doentes também têm uma menor sensibilidade à dor pelo que se queixam menos quando têm uma doença. Este facto pode levar a atrasos de diagnóstico de algumas doenças. Além disto têm maior dificuldade em ir a outras consultas médicas como as de Clinica Geral. Os doentes com Esquizofrenia, em geral, têm menos cuidado com a sua saúde. Por vezes, mesmo quando certas doenças estão já diagnosticadas, estes doentes não se tratam adequadamente.

Como conclusão salientamos aspectos muito importantes na manutenção da saúde física dos doentes com Esquizofrenia:

• Redução ou cessação Tabágica
• Não consumir Álcool ou outras drogas
• Fazer exercício físico com regularidade
• Ir periodicamente ao Médico de Família
• Evitar erros alimentares

Adaptado de “Comprehensive Care of Schizophrenia” Liebeman, Murray
Publicado no Boletim “EMPATIA” número 7 (Dezembro de 2008)

Dr. António Gomes (Presidente da AEAPE)

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Desafios na adesão terapêutica a longo prazo


5º Encontro Internacional de Doentes, Cuidadores e Defensores de Direitos em Saúde Mental

“Desafios na adesão terapêutica a longo prazo”

18 e 19 de Junho de 2008 – Hotel Josef, Praga, República Checa, Europa


Estiveram presentes neste encontro cerca de 50 pessoas em representação de dezasseis associações. O encontro decorreu de forma descontraída, onde apresentações alternaram com trabalhos de grupo. A AEAPE fez-se representar por mim. Da delegação portuguesa faziam ainda parte a Dra. Joana Palha (ENCONTRAR+SE) e a Rita Reis (ASTRAZENECA).



A Federação Mundial para a Saúde Mental (WFMH), na pessoa da presidente, apresentou “Desafios e oportunidades na defesa de direitos em Saúde Mental”, bem como o “Manual da Perturbação da Ansiedade Generalizada para doentes, cuidadores e médicos”. A Dra. Franciosi apresentou ainda o “Inventário da rede de contactos da WFMH” disponível na internet, onde se ambiciona colectar o máximo de associações. O Dr. Colom, psiquiatra docente na Universidade de Barcelona, falou sobre “Adesão terapêutica: desafios para todos nós”, focando as dificuldades no sucesso terapêutico, dependente da relação de equilíbrio entre pessoa, doença e medicamento. O Lexicon, guia internacional sobre saúde mental para os média” foi apresentado pela Schizophrenia Ireland e encontra-se disponível através do sítio da internet já citado. Ali se aconselham jornalistas, na forma como se devem abordar notícias sensíveis relacionadas com a saúde mental. A Dra Gauci (GAMIAN) abordou as “Actualizações de políticas europeias” e “Etnicidade e cultura” no contexto da Saúde Mental, mostrando ainda avanços no “Estudo pan-europeu sobre estigma”.



Os trabalhos de grupo focaram temas como “Capacitação e suporte para famílias e cuidadores”, “Desafios para doentes”, “Prestação de serviços em saúde mental” e aquele em que participei “Como poderão os média influenciar a adesão terapêutica a longo termo?”. As pessoas foram divididas em grupos que discutiram os temas e tiveram que apresentar, perante o resto dos participantes, as suas conclusões. Nesta fase a troca de ideias foi muito produtiva. Quanto aos casos de estudo, o representante da NAMI presentou um inquérito interestadual sobre “Esquizofrenia, necessidades pessoais e atitudes públicas” que revelou preconceitos e mitos que persistem na sociedade americana. A República Checa (Sympathea) apresentou a “Videocassete para o direito à escolha”, composta por entrevistas a doentes, familiares e médicos, que foi criada como vã tentativa de convencer o governo checo a aumentar a comparticipação de fármacos psicoactivos. A espanhola FEAFES apresentou um projecto de apoio desenvolvido em doentes reclusos daquele país. Os técnicos da galesa Hafal partilharam o sucesso de “Peter, um exemplo prático do programa de recuperação”. Filipa Palha, psicóloga, presidente da associação portuguesa ENCONTRAR+SE, apresentou o projecto “Uma música para a saúde mental”. Esta iniciativa consiste na colaboração entre artistas do meio áudio-visual, com vista à sensibilização para a saúde mental, através de músicas divulgadas na rádio, televisão e internet.


Em jeito de conclusão foi um encontro produtivo, interessante, que contribuiu para a divulgação e interacção entre as diferentes associações participantes, que puderam assim, trocar entre si, ideias, materiais e contactos.


Dr. João Gama Marques

(Vice Presidente da AEAPE)

O que é a Esquizofrenia?

O que é a Esquizofrenia ?
• É uma doença mental caracterizada pela presença de alucinações, delírio e alterações várias nas capacidades de comunicação, afectos e pensamento.
• O seu início é geralmente precoce, afectando jovens entre os 16 e 25 anos. Pode contudo aparecer mais tarde, mas o início antes dos 10 anos ou após os 50 é muito raro.
• Afecta jovens do sexo masculino e feminino com a mesma frequência, mas o seu início é geralmente mais precoce nos rapazes.
• A distribuição desta doença é mundial, tendo uma prevalência de cerca de 1%.
• Existem factores que agravam a expressão da doença como por exemplo o consumo de drogas ou o “stress”.
• Está ainda identificada a sua transmissão genética, isto é, hereditária.

O que não é a Esquizofrenia?

Personalidade múltipla

Não é causada por traumas de infância, maus tratos ou pobreza

Não é resultado de nenhum acto do indivíduo, nem falhanço profissional.



A Esquizofrenia:
• É uma doença do cérebro.
• É identificada por sintomas específicos e marcada por grave perturbação do pensamento.
• Tem tratamento eficaz no controlo dos sintomas e impede o agravamento da doença.
• Com diagnóstico precoce e tratamento pode-se melhorar muito o prognóstico, promovendo a integração social.
• Com tratamento específico e suporte muitos doentes com Esquizofrenia podem aprender a lidar com os sintomas da doença e terem uma vida relativamente confortável e produtiva.

O que hei-de fazer?
Para muitas pessoas é difícil lidar com a doença mental, porque não conseguem compreender que é uma doença. Pelo senso comum é mais fácil reconhecer uma doença física como doença. Há que não esquecer que a doença mental é doença na plena acepção do termo e tem também causas no organismo, nomeadamente por alterações do funcionamento do cérebro. A doença não é mau feitio, nem maldade!
Lembre-se de que não conseguirá ajudar alguém doente se o culpar por estar doente ou se se culpar a si. Procure obter conhecimentos sobre a doença e o seu tratamento. Ficará mais bem preparado para ajudar o seu familiar a melhorar. A leitura deste folheto pode ser um bom começo. A Associação de Apoio e Educação na Esquizofrenia (AEAPE) pretende contribuir para um melhor conhecimento prático da doença de modo a melhorar a relação com as pessoas doentes.

Como lidar com alguém que sofre de doença mental ?
É natural que não saiba muito bem o que fazer, mas comece por tentar colocar-se no lugar da outra pessoa. Como é que gostaria que o tratassem a si? A pessoa que sofre de esquizofrenia ou de outra doença mental sentirá provavelmente o mesmo. Fale e actue com naturalidade e não tema cometer erros. Se se sentia ligado/a a quem está agora doente, por laços e sentimentos de afecto, não receie continuar a exprimi-los. Se era reservado no modo de comunicar não modifique a maneira de ser com manifestações exageradas que podem ser vistas pelo doente como artificiais e intrusivas. Mantenha-se como é habitualmente para criar à vontade na relação humana.

O reconhecimento dos sinais (não são necessários todos):
• Ouvir ou ver algo que não é real;
• Uma sensação constante de que está a ser vigiado;
• Modo peculiar ou incompreensível de falar ou de escrever;
• Posturas estranhas;
• Atitude de indiferença afectiva perante situações graves;
• Deterioração do rendimento escolar ou do trabalho;
• Alterações nos padrões pessoais de higiene e aparência;
• Alteração da personalidade;
• Maior isolamento das situações sociais;
• Respostas irracionais, de fúria ou de medo perante os entes queridos;
• Incapacidade de conciliar o sono ou de se concentrar;
• Comportamento inadequado ou bizarro, sem motivação compreensível;
• Preocupação extremas com a religião ou com assuntos relacionados com o oculto.